Caso Benício: Hospital cadastrou médica no Ministério da Saúde como pediatra mesmo sem especialização, diz delegado
Caso Benício e Pedro Henrique: Parentes das vítimas se uniram em um protesto em Manaus O Hospital Santa Júlia cadastrou a médica Juliana Brasil em plataform...
Caso Benício e Pedro Henrique: Parentes das vítimas se uniram em um protesto em Manaus O Hospital Santa Júlia cadastrou a médica Juliana Brasil em plataforma do Ministério da Saúde como pediatra, mesmo a profissional não possuindo especialização na área, afirmou o delegado Marcelo Martins nesta segunda-feira (15). A médica é investigada pela morte do menino Benício Xavier, de 6 anos, após aplicação errada de adrenalina na unidade de saúde, em Manaus. Benício morreu na madrugada do dia 23 de novembro. A médica admitiu o erro em um documento enviado à polícia e em mensagens em que pediu ajuda ao médico Enryko Queiroz, mas a defesa dela afirma que a confissão foi feita "no calor do momento". Ela e a técnica de enfermagem Raiza Bentes Praia, responsável pela aplicação, respondem ao inquérito em liberdade. Ao g1, Marcelo Martins afirmou que a informação foi constatada em consulta ao Cadastro Nacional de Especialistas (CNE). 📲 Participe do canal do g1 AM no WhatsApp "Nós constatamos, através de consultas a fonte aberta do Ministério da Saúde, que a médica Juliana Brasil foi cadastrada perante o Ministério da Saúde como médica pediatra, ou seja, não é ela que faz essa declaração, é o próprio hospital", disse o delegado. 🔎 O CNE permite visualizar a distribuição de profissionais de saúde no território brasileiro, conforme as unidades da federação, municípios e territórios de saúde (regiões e macrorregiões de saúde), identificando a disponibilidade em cada especialidade e a inserção no sistema de saúde, seja por categoria ocupacional ou por tipo de estabelecimento onde estão em atuação. O cadastro no CNE não é de responsabilidade dos profissionais. Segundo o Ministério da Saúde, os dados que constam na plataforma são obtidos junto ao Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES); Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Médica Brasileira (AMB). Martins reforça que o profissional do hospital que realizou o cadastro pode responder criminalmente. "Alguém do hospital realizou essa declaração perante o Ministério da Saúde, afirmando que a médica Juliana era uma médica pediátrica, e essa pessoa pode responder por falsidade ideológica. Essa é uma outra circunstância que será apurada em termos de responsabilização criminal". O Hospital Santa Júlia não se pronunciou sobre Juliana Brasil não ter especialidade em pediatria e atuar no setor da unidade. Hospital Santa Júlia em Manaus. Reprodução Médica usava carimbo de pediatria A médica Juliana Brasil também pode responder pelos crimes de falsidade ideológica e uso de documento falso, além de homicídio doloso por dolo eventual. A informação foi confirmada pelo delegado Marcelo Martins. Segundo o delegado, a Polícia Civil realizou uma análise sobre a forma como a médica se identificava profissionalmente. De acordo com a apuração, Juliana Brasil utilizava carimbo e assinaturas com referência à especialidade de pediatria, mesmo sem possuir o título oficialmente reconhecido. “Nós realizamos um estudo a respeito da questão dela ter assinado a especialização pediatria no carimbo e ter assinado o nome dela com a expressão pediatria. Todas as regulamentações do Conselho Federal de Medicina indicam que o médico que não possui uma especialização não pode se identificar de nenhuma forma, com nenhuma referência a uma especialidade que ele não possui, e ela fez isso”, afirmou o delegado Marcelo Martins. Ainda conforme o delegado, a conduta pode configurar dois crimes distintos. “Então, isso configura o crime de falsidade ideológica e o uso de documento falso. A investigação prossegue agora também com relação a esses dois crimes, além do homicídio doloso por dolo eventual”, disse. A Polícia Civil segue colhendo depoimentos e analisando documentos para esclarecer as circunstâncias do atendimento e eventuais responsabilidades criminais. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) permite que médicos obtenham o Título de Especialista em Pediatria (TEP) sem residência, por meio da aprovação na Prova de Título (TEP). A defesa da médica afirmou à Rede Amazônica que, embora Juliana Brasil não tenha o título de especialista em pediatria, ela é formada desde 2019 e atuava legalmente na área, acumulando experiência prática. Os advogados acrescentaram que ela pretendia realizar a Prova de Título neste mês de dezembro. Médica Juliana Brasil pode responder por falsidade ideológica ao usar carimbo de pediatria sem especialidade Reprodução LEIA TAMBÉM: Caso Benício: Justiça revoga habeas corpus de médica investigada por prescrever adrenalina Cronologia do atendimento de Benício mostra sequência que levou à morte da criança Colega de trabalho diz em depoimento que alertou técnica para não aplicar adrenalina na veia O caso Caso Benício: erros em série causaram morte de menino de 6 anos com dose de adrenalina Segundo o pai, Bruno Freitas, o menino foi levado ao hospital com tosse seca e suspeita de laringite. Ele contou que a médica prescreveu lavagem nasal, soro, xarope e três doses de adrenalina intravenosa, 3 ml a cada 30 minutos. A família disse ao g1 que chegou a questionar a técnica de enfermagem ao ver a prescrição. De acordo com Bruno, logo após a primeira aplicação, Benício apresentou piora súbita. “Meu filho nunca tinha tomado adrenalina pela veia, só por nebulização. Nós perguntamos, e a técnica disse que também nunca tinha aplicado por via intravenosa. Falou que estava na prescrição e que ela ia fazer”, relatou o pai. Após a reação, a equipe levou a criança para a sala vermelha, onde o quadro se agravou. A oxigenação caiu para cerca de 75%, e uma segunda médica foi acionada para iniciar o monitoramento cardíaco. Pouco depois, foi solicitado um leito de UTI, e Benício foi transferido no início da noite de sábado. Na UTI, segundo o pai, o quadro piorou. A equipe informou que seria necessária a intubação, realizada por volta das 23h. Durante o procedimento, o menino sofreu as primeiras paradas cardíacas. O pai relatou que o sangramento ocorreu porque a criança vomitou durante a intubação. Após as primeiras paradas, o estado de Benício continuou instável, com oscilações rápidas na oxigenação. Minutos depois, Benício apresentou nova piora e não respondeu às manobras de reanimação. Ele morreu às 2h55 do domingo. “Queremos justiça pelo Benício e que nenhuma outra família passe pelo que estamos vivendo. O que a gente quer é que isso nunca mais aconteça. Não desejamos essa dor para ninguém”, disse o pai. Em nota, o Hospital Santa Júlia informou que uma médica e uma técnica de enfermagem foram afastadas de suas funções e realizou uma investigação interna pela Comissão de Óbito e Segurança do Paciente. Infográfico - Caso Benício Arte g1